Uma face de mim

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"Se os fatos estão contra mim, pior para os fatos." - Nelson Rodrigues

sábado, 1 de julho de 2017

O toque do seu rosto no meu
                                                  Leve, curto, quente
Seu perfume no meu pescoço
                                                  Doce, fugaz, inebriante
Sua voz em meu ouvido direito
                                                   Rouca, suspirada, enlouquecedora
A distância entre nossos corpos
                                                   Pequena, comprida, ultrajante

Minha mente em contato com a sua
                                                                       Desejo
Minha boca roçando na sua
                                                                        Vício
Meus passos em conformidade com os seus
                                                                        Órbita
Meus sonhos centrados em você
                                                                        Paixão

Completamente perdida e vulnerável
                                                              em suas mãos
                                       
Atração inexorável
Um abismo reconhece outro
Sentimentos que nos jogam
Como pedras, não ecoam
Apenas passam,
                          em vão

Fixação incontrolável
Um abismo deseja outro
Sentimentos eu te jogo
Como pedras, não ecoam
Voltam na minha face,
                                      mutilação

Cegueira inextricável
Abismos destroem montanhas
Sentimentos são feridos
Como pedras, ecoam em rios de sangue
Perdão

domingo, 25 de junho de 2017

Que coincidência tropeçar em meus próprios sentidos
E me perceber a três centímetros de sua face
Esbarrei suave em seu mundo
Sem primeiras intenções de ficar

Mas o Universo não seria ele mesmo
Se eu não flutuasse inadvertidamente em suas ondas
Se não submergisse em seu sorriso
E emergisse dos meus abismos para a nova superfície em que está você

Podemos navegar?


terça-feira, 6 de junho de 2017

Na iminência de te amar
Não há atrito que retraia
Esse coração já tão exposto
Sedento por uma mísera migalha

domingo, 28 de maio de 2017

Confusões mentais de uma madrugada de domingo

O entendimento de identidade recai como uma carga que te deixa vulnerável. Membros, mente e coração colocam todas as suas forças para equilibrar o peso de quem você era, com a expectativa de idealização e a constante troca de papéis na negociação do desejo final.
As medidas não são iguais. Cargas se deslocam da cabeça para os ombros. Dos ombros para o peito. Do peito para o sexo. Do sexo para os pés. Reversão.
Aversão.
Haveria de ser mais simples se não fosse o infindável murmurinho ecoando em todas as praças, documentos e beijos.
                                                             (Binarismo, binarismo)
Identificar-se é expor os órgãos na pele maltratada por si mesmo e pelos outros. É enfeitar e perfumar aquilo que tende a ser visto como esterco para ser vendido em uma indústria de inclusão ilusória e parcial.
Ser é alegorizar um monumento bizarro, perdido há milhares de consciências atrás. Ou encontrado há milhares de mortes - aparentemente - desconexas à frente.
A exposição de corpos preexiste à essência.
No final não existimos, apenas somos vistos.
E invisibilizados.
A carga que nos atormenta desaparece para deixar apenas uma corcunda anti-estética confundida com inferioridade.
Subalternos, afogamos nas margens da grande viagem de descoberta individual.
Dizem que somos apenas infantes brincando nas marés.
Mas somos todas as águas.
(E também somos todas as lágrimas)
Pois nossa identidade não há de se restringir ao mero som de tempestade.
Há de resistir.
Transformar e perdurar.
Se o oceano é uno, mas também dividido, eu também posso me descobrir retalhos e ainda assim conexo.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Marco de identidade

Tire suas normas de cima de mim
Não sou homem, tampouco mulher
Tire suas normas de cima de mim
Minha existência não te oprime
Não te faz ferida qualquer

terça-feira, 28 de março de 2017

Pela janela, vejo a chuva cair. Ela traz certa vida à cidade, tão desprovida de elementos orgânicos.
Orgânicos.
Algo dentro de mim aperta.
Fecho as cortinas. O que estou tentando me mostrar?
Em meio a tanta mobília empoeirada, não consigo definir o que sou eu e o que é decoração.
O papel de parede da sala tem mais veias do que acredito ligar meu coração ao resto do corpo.
Corpo.
Não sei se eu termino nos dedos que tocam a estante ou se somos parte da mesma paisagem patética e sufocante desse apartamento diluído em segundo plano pela vastidão do universo.
Verso.
"O som leve do trovão"
Lá fora a natureza traz validade à poesia.
Aqui dentro, o que traz validade a mim?
A poesia.
Eu posso não existir na História do que é Importante, mas estar eternizado em versos - ah! Só assim alguém pode dizer que viveu.


Viveste?

sexta-feira, 17 de março de 2017

Tarde de gatilhos

Quanto de mim sou eu?
Quanto foi embora sem avisar?
Quanto de mim sou eu?
Quanto eu deixei escapar?
Aonde metade de mim se escondeu?
Em quais braços fui me refugiar?
Por que me deixei assustar e fugi?
Por que não fiquei para lutar?
Quanto de mim ainda sou eu?
Qual parte eu consigo amar?
Quando eu serei completamente eu?
Quando conseguirei me doar?

segunda-feira, 13 de março de 2017

Hora do chá

Sentada na mesa, observando a fumaça que se esvai da minha xícara de chá: meu atual estado, estado de todos os dias.
Há tempos minha mente acorda e vai direto para os seus braços. Às vezes mais acima, às vezes mais abaixo. Sempre você.
Preciso ter cuidado para não queimar os dedos, nem a língua. Hoje irei te ver? Muito quente. Assopro o chá. O calor me surpreende com memórias de uma intimidade que nunca existiu.
Um gole. Dois goles. A xícara inteira.
Você, o mundo e eu.

Versos de todos os crimes

Todo dia é dia para ser estatística
Invisíveis são apenas meus direitos
Nas ruas, os olhos se (re)viram todos para mim

Você é menino?
Ou menina?
Não consigo te definir

Você é uma menina.
Não um menino
Não acho que tenha algo para respeitar
Aliás, por que você se veste assim?

Todos os dias sou estatística
Invisível é a violência para quem continua vendado
Nas ruas, mais do que olhos se viram
Punhos em minha direção
A sociedade se volta contra mim


Nós esquecemos o quanto dói até nos agredirem de novo

sexta-feira, 10 de março de 2017

Afundo,
               mas não esqueço
A superfície mora nos olhos dela
Paz dos náufragos,
                               o som de seu violão
Guia das estrelas,
                             protetor da solidão
                                         
Lanterna para quem há muito se perdeu
Cais para quem vacila ao navegar
Esses versos simples são seus
Um apelo para em suas águas repousar

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Você veio
Você foi
Deixando em mim
Mais do que eu já sentia

Você veio
Você foi
E levou consigo
Tudo o que eu sabia
Maybe the stars will bring me to you
Who knows what they are up to?
Maybe the stars will bring me to you
Who knows?
Maybe I'm yours

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

O som dos trovões lá fora
Anuncia algo muito maior do que nós
Recolho-me em meus cantos mais obscuros
Em toda minha módica existência e penso:
A chuva pode tudo levar

Lava-me.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Eu vago por essa Terra em busca de perdão
Ao mesmo tempo que procuro erros para me arrepender
Tudo ecoa em minha mente,
                                               desde os mais singelos enganos infantis
Como se cada minuto vivendo
                                                 fosse tempo perdido para a redenção
Eu erro mesmo sabendo ser algo que não deveria fazer
E erro mais ainda
                              esperando algum sentimento
Esperando meu novo amanhecer

Mas nada muda,
                            nada se esquece
As memórias se acumulam em um turbilhão
Basta uma centelha,
                                 um instante de paz
Para reacender a chama que me tira do controle
Que me trancafia entre os músculos de meu coração


Devolva minha mente.

Sintonia